terça-feira, 5 de maio de 2009

Improvisação e Lamento

Pra começar essa fase de estudo compartilhado, comecemos com... Tcharaaam: Música! E não tem pra onde correr, deste vasto domínio artístico, eu fui me bater nele, no mais norteamericano dos sons... That's all about jazz, babe!

Se me perguntarem de onde vem a identificação com esse mundo do improviso de grandes instrumentistas, mas que tem sua origem nos simples lamentos africanos, respondo à la Chicó, do Auto da Compadecida: "Não sei, só sei que foi assim". O que importa é que o som bate aqui no peito, me arrebata, acelera a pulsação e, quando não me faz sair dançando um swing pela casa, me faz sentar num canto, de olho fechado, com uma dor bem blue ao coração.

Os próximos posts vão ter como referência principal o livro Jazz on Record, de Scott Yanow. Pra quem se interessar em ir atrás:

YANOW, Scott. Jazz on Record: the first sixty years. San Francisco: Backbeat Books, 2003.
(sim, além de adorar sumários, eu também adoro referências bibliográficas – eheheh)

Eu podia passar vários dias aqui, tentando definir o que é o jazz... Com certeza ia ouvir um monte de opinião de gente que entende da coisa muito mais do que eu, essa leiga interessada... A gente podia começar falando dos diversos desdobramentos que esse gênero musical teve ao longo da história e todos os estilos que ele gerou... Falar dos que mais impressionam pela técnica, ou dos que mais emocionam pelo sentimento expresso... Mas eu vou aceitar a “sugestão” de Scott Yanow e começar pelo começo. Nos transportar à virada do século XIX para o XX e descobrir quem foram os primeiros a fazer esse som, que era muito diferente do que é hoje... Mas isso no próximo post (rsrs).

Hoje, ficamos com a primeira de três perguntas típicas sobre os primórdios do jazz: O que exatamente é jazz? Onde ele começou? De onde ele vem?... Nenhuma dessas perguntas conseguiu jamais ser respondida de forma definitiva. Por ora, então, ficamos com as respostas de Yanow... Mas elas estão abertas a discordâncias. Se você tiver questões a levantar, críticas à definição dele ou qualquer coisa parecida, utilize a sessão comentários deste blog (fica logo ali embaixo).

O que exatamente é jazz?

A resposta de Yanow para essa pergunta é a que mais gosto das três. Isso porque ele não se limita a tentar explicar o jazz pela técnica, como aquelas definições “duras” ao estilo Wikipédia: “forma de se fazer música incorporava blue notes, chamada e resposta, forma sincopada, polirritmia, improvisação e notas com swing do ragtime, cujos instrumentos musicais básicos são os metais, palhetas e baterias” (blahhh!!!). Isso é chato demais. É necessário saber essas coisas, não há dúvida, mas esse tecnicismo esvazia o jazz de toda a sua artiticidade, de toda a carga emocional, que é parte da essência do gênero...

Até onde vai uma definição, e ignorando a afirmação de Louis Armstrong (ou seria Fats Waller) de que ‘se você não sabe o que é, não se meta’, o mais próximo que eu pude chegar é dizer que o jazz é um tipo de música que enfatiza a improvisação e que carrega sempre o "sentimento blues".

Tecnicamente, a improvisação seria atingida através da criação de solos e às vezes da combinação de vários instrumentos de forma espontânea. O “sentimento blues” não se referiria à execução da progressão básica do blues (12-bar blues), mas seria alcançado através dos “bends”, que fazem com que a alma do músico se imprima na música. Esses dois elementos seriam as únicas qualidades específicas que o jazz clássico, o swing e o bebop teriam em comum com o de vanguarda, o fusion e o modern jazz... Mas será mesmo??? E aí, o que acham? :P

Beijos!

3 comentários:

  1. O jazz carrega em si um "azedume" e a personalidade de quem o toca. O sentimento blues eu não sei se é tão real assim. O blues ainda é mais rude, o jazz é mais cuidadoso. Precisa de mais estudo, precisa pegar no calo, ir atrás.
    Tem uma gravação de Coltrane (giant steps), que é conhecida pela harmonia azeda e difícil de improvisar. Contam que o pianista que tocou na primeira gravação de "Giant steps" ficou meio chateado com Coltrane porque ele conheceu a música no dia da gravação e não teve tempo suficiente para estudar a harmonia. Pois bem, o improviso dele, infelizmente, é um desastre, enquanto Coltrane passeia brincando pelas modulações da música que até hoje é um grande desafio para qualquer músico conseguir tocar. E é exatamente isso o jazz: O desafio. São como grandes pensadores debatendo suas teorias malucas uma para o outro.
    :)

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  2. Hmmm! Azedume e Desafio seria uma boa definição mesmo... (ahahahaha) :)

    Agora, com relação ao "sentimento blues", talvez ele não esteja se referindo ao gênero musical blues... O que eu entendo de "sentimento blues" é o banzo mesmo, a melancolia, a tristeza... Não que todas as canções do jazz sejam borocochôs, mas... ah, você entendeu (ahahahaha).

    Ah! Vou tentar baixar Giant Steps!

    beijo!

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  3. Tão engraçado... Depois de ler texto e comentários, nem me lembrava mais sobre como vim parar aqui. Puxei pela cinzenta e... Ah! Scott Yanow. Enfim, legal teu interesse em jazz. Visite-me. Lá não está postado Giant Steps (álbum q creio deva ser facinho de achar na rede) mas tem muita coisa raraeboa.

    Que pena... Scott Yanow (pelo q percebi) só ininglish, o livro.

    De toda forma, Valeu a visita!

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